Resto
Pequenas e profundas rachaduras se estendiam por toda aquela palma. Os braços, negros, em riste, esperavam trêmulos pela concessão do pedido. Um gole... Estava pedindo um gole da minha água de coco... Em suas mãos restavam alguns grãos de arroz que não se desprenderam da pele quando esta foi arrastada contra as calças sujas, em uma tentativa sem muito empenho, de limpar os “talhares” usados na ultima refeição. Estendi o coco com minhas duas mãos... Ele o recebeu da mesma forma... Seu dedo indicador tocou o meu no momento do passe, semeando minha pele com um grão cozido... Enquanto seus olhos se encontravam fixos na observação do volume de água que subia apressada pelo canudo, os meus miravam o arroz, que fora depositado ao acaso em meu dedo, ser lançado à lagoa, e logo devorado pelos pequenos peixes estabanados... O processo se invertera agora... O coco me era repassado tal como eu havia feito momentos antes... Novamente as mãos entram em cena, dessa vez meus dedos juntos e retos apontam para o céu, minha palma esticada revela o sinal de pausa. Ofereço para que fique com o resto... O resto... Resto... Seu olhar de resto me indaga... Insiste para que eu tome de volta o que me pertence. Minha vez de inverter o processo... Insisto para que aceite o presente... O resto... O cenho franzido se desfaz em desajeitadas rugas de agradecimento... A água que sobe apressada volta a ser o centro das atenções... um arremesso... logo o coco, agora vazio, flutua incerto sobre o espelho da lagoa... Um aceno... E ele parte... Se parte...
2 Comments:
Psiu, vai escrever mais não ?
Tô sempre visitando aqui pra ver se tem texto novo .
Saudade ..... =/
H.
Escreva, fio
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